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Especialistas afirmam que enxaguantes bucais com medicamentos deveriam sumir do mapa

01/02/2019 - Notícias

O suposto “enxaguante bucal mágico”, uma solução oral anti-inflamatória e analgésica usada nos Estados Unidos nos casos de dor decorrente da quimioterapia, é ineficaz, e o seu desaparecimento do mercado seria um favor para os médicos, conclui um ensaio publicado online em 19 de novembro no periódico JAMA Internal Medicine.

A proposta sarcástica é acompanhada de uma acusação mais séria – que os enxaguantes bucais, cuja fórmula não é consagrada, podem ser mais prejudiciais do que benéficos.

Os autores do ensaio liderado pelo Dr. Angad Uberoi, da Icahn School of Medicine at Mount Sinai, em Nova York, listaram os efeitos colaterais descritos em uma pesquisa feita nos Estados Unidos em 2005 em 40 farmácias institucionais de 21 estados. Os resultados mostraram que os pacientes descreveram disgeusia (49%), ardor/parestesia na cavidade oral (29%) e sonolência/distúrbios do sistema nervoso central (11%).

Além disso, os dados de eficácia não embasam o uso dos enxaguantes, que, de acordo com os autores, muitas vezes são feitos com algum tipo de mistura de anticolinérgicos, antiácidos, protetores de mucosa e anestésicos.

Um único estudo randomizado duplo-cego realizado em 2000 comparou a eficácia de três produtos diferentes: clorexidina; sal e bicarbonato de sódio; e enxaguantes bucais com medicamentos, com um contendo lidocaína, difenidramina e hidróxido de alumínio. Não houve diferenças entre os produtos quanto às classificações de alívio da dor ou tempo até a melhora dos sintomas.

Uma revisão sistemática de 2013 concluiu que, para a mucosite oral, que é o termo genérico da lesão tecidual decorrente da quimioterapia sistêmica e da radioterapia de cabeça e pescoço, nenhuma evidência respaldou o uso dos enxaguantes bucais.

Absolutamente correto, disse outro pesquisador.

“O artigo em tela está correto quanto a não existirem evidências de alto nível publicadas até o momento, corroborando o uso dos enxaguantes bucais com mistura de medicamentos para a mucosite relacionada à quimioterapia antineoplásica”, disse o Dr. Robert Miller, médico da Mayo Clinic em Jacksonville, na Flórida, convidado a comentar o estudo.

“Encontramos uma redução significativa da dor referida pelo paciente entre outros pacientes que receberam tanto o enxaguante bucal medicamentoso como a doxepina.”
–  Dr. Robert Miller

Mas isso vai mudar em breve, sugeriu.

O Dr. Robert se referia a uma pesquisa que ele mesmo liderou; um estudo clínico multi-institucional de fase 3 financiado pelo governo federal norte-americano feito com 275 pacientes. Os resultados desse estudo foram apresentados em 2016, no encontro anual da American Society of Radiation Oncology. O estudo de três braços comparou um enxaguante contendo lidocaína a um enxaguante contendo o antidepressivo tricíclico doxepina e a um enxaguante que serviu como placebo.

“Encontramos uma redução significativa da dor referida pelo paciente entre outros pacientes que receberam tanto enxaguante bucal medicamentoso como a doxepina para dor na mucosite durante a radioterapia”, resumiu o Dr. Robert.

“Esperamos ter esses resultados publicados em um manuscrito revisado por especialistas em breve”, disse ao Medscape.

Os autores do ensaio estão cientes do Abstract do Dr. Robert, mas, na medida em que o estudo foi apresentado como Abstract, não o consideraram como evidência, disse o segundo autor Dr. Timothy Brown, da University of Texas Southwestern Medical Center, em Dallas.

“Até onde podemos dizer, não foi publicado como artigo”, escreveu ele em sua rede social no dia seguinte à publicação do ensaio.

No ensaio, os autores recomendam um remédio antigo para casos leves de mucosite oral.

“A higiene minuciosa dos dentes com uma escova de dentes macia e bochechos com enxaguante bucal barato, feito em casa, de sal e bicarbonato de sódio (uma colher de chá de sal e bicarbonato de sódio, cada um em um litro de água) são recomendados”, escreveram.

De acordo com os autores, esse enxaguante rudimentar dissolve detritos coletados, promove a formação de tecido de granulação e previne infecções elevando o nível de pH oral.

Enxaguantes de morfina ou doxepina como agentes únicos podem ser úteis para o controle da dor, mas o sucralfato, os esteroides e os antimicrobianos empíricos podem ser prejudiciais e devem ser evitados, acrescentaram.

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