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10 anos de JPAD: aspirina não oferece proteção cardiovascular na prevenção primária para diabéticos

22/04/2017 - Com Banner

Nara, Japão – Baixas doses de aspirina não reduziram a incidência dos eventos cardiovasculares na prevenção primária no Japão, de acordo com os resultados do acompanhamento de 10 anos de um estudo.

“Devemos procurar outra estratégia para a prevenção primária de eventos cardiovasculares em pacientes diabéticos”, disse o Dr. Yoshihiko Saito (Nara  Medical University, Japão) para o Medscape.

Saito e colaboradores realizaram a análise do acompanhamento do estudo Japanese Primary Prevention of Atherosclerosis with Aspirin for Diabetes (JPAD). Este estudo foi realizado com 2.539 pacientes com diabetes tipo 2 e sem doença cardiovascular preexistente, randomizados para receber aspirina (81 mg/dia ou 100 mg/dia) ou não receber o medicamento.

A mediana do acompanhamento chegou a 10,3 anos para 1.621 (64%) pacientes acompanhados até a ocorrência de um evento cardiovascular ou até julho de 2015. No total 2.160 (85%) participantes mantiveram a sua alocação original do estudo após o término deste, em 2008.

A média de idade dos pacientes era de 65 anos ao início do estudo, e 55% dos pacientes eram do sexo masculino. A média do índice de massa corporal foi de 24 kg/m2 e a duração média do quadro de diabetes era de 7,1 anos.

Os pesquisadores identificaram 317 eventos cardiovasculares na população geral, 151 no grupo da aspirina e 166 no grupo que não recebeu aspirina. Os eventos cardiovasculares foram 125 eventos comprometendo as artérias coronárias, 133 eventos cerebrovasculares e 45 eventos vasculares.

Os pesquisadores não encontraram diferença significativa entre os grupos para o desfecho primário de evento cardiovascular como morte súbita, doença coronariana, acidente vascular encefálico e doença arterial periférica.

Baixas doses de aspirina não reduziram o número de eventos cardiovasculares na coorte de acordo com o protocolo (hazard ratio, HR = 1,14; intervalo de confiança, IC, de 95% de 0,91 a 1,42), ou após o ajuste por idade, sexo, controle da glicemia, função renal, tabagismo, hipertensão arterial sistêmica e dislipidemia (HR = 1,04; IC de 95% de 0,83 a 1,30), ou após a análise de sensibilidade (HR= 1,01; IC de 95% de 0,82 a 1,25).

Ocorreram eventos hemorrágicos em 80 pacientes (6%) no grupo da aspirina e em 67 pacientes (5%) no grupo que não tomou aspirina (P = 0,2). A ocorrência de hemorragia digestiva foi mais frequente no grupo da aspirina (25 eventos, 2%) do que no grupo que não tomou aspirina (12 eventos, 0,9%, P = 0,03).

Os pesquisadores não observaram diferenças significativas na incidência de acidente vascular encefálico hemorrágico.

Os autores escreveram que uma possível razão para os resultados negativos observados com o uso da aspirina foi o fato de as evidências de benefícios do uso deste medicamento para a prevenção primária terem sido documentadas no século XX, antes da disponibilidade das altas doses de estatinas.

“Nossos resultados são um de certa forma generalizáveis para outros países, porque o efeito da aspirina na redução da HR dos eventos cardiovasculares é semelhante no estudo JPAD e em outros ensaios clínicos”, disse o Dr. Saito para o Medscape.

O Dr. Darren K. McGuire (University of Texas Southwestern, em Dallas) disse ao Medscape que a nova análise “corrobora uma literatura em evolução sobre o que acreditamos ser, em determinado momento, um  tamanho único’ para os pacientes com diabetes tipo 2. Nos últimos 10 a 12 anos batemos rapidamente em retirada nas orientações nos baseando nas evidências que surgiram, em grande parte impulsionadas por este ensaio clínico randomizado original, o estudo JPAD.

“Acredito que isso seja importante por duas razões”, continuou o Dr. McGuire. “A primeira, porque o ensaio inicial sugeriu uma potencial interação ou heterogeneidade do efeito da aspirina beneficiando os idosos. Com base nisso, acho que até no Japão houve continuação do tratamento dos pacientes idosos com diabetes tipo 2 como prevenção primária, mas este acompanhamento em longo prazo na verdade desfez inteiramente a heterogeneidade. Portanto, atualmente não há nenhum subgrupo que pareça se beneficiar com a prevenção primária.”

“A segunda razão é que acho importante o fato de as orientações diferirem um pouco nos dois lados do Atlântico. Atualmente na Europa as diretrizes mais recentes não recomendam o uso da aspirina na prevenção primária para pacientes com diabetes tipo 2, exceto ao considerar os pacientes de risco muito alto, enquanto que nos EUA as orientações continuam a endossar a aspirina na prevenção primária, contanto que o paciente alcance uma certa idade e tenha pelo menos algum outro fator de risco”, disse o Dr. McGuire.

Este acompanhamento prolongado do JPAD sugere que as orientações europeias podem muito bem ser a interpretação mais adequada dos dados, e talvez as diretrizes norte-americanas devam reconsiderar se o uso da aspirina é justificado para algum paciente com diabetes tipo 2 na prevenção primária da doença cardiovascular”, acrescentou ele.

“O que foi marcante para mim neste estudo foram os baixíssimos índices de sangramento digestivo grave. Apesar do risco relativo ser duas vezes maior com o uso da aspirina, o risco absoluto de eventos hemorrágicos importantes é realmente muito pequeno, e não houve casos de hemorragia intracraniana”, observou o Dr. McGuire.

Este estudo foi apoiado pelo Ministério da Saúde, do Trabalho e do Bem-Estar do Japão e pela Fundação do Coração do Japão. O Dr. Saito informou receber bolsas de pesquisa (em quantias significativas) de: MSD, Daiichi Sankyo, Bayer, Otsuka Pharmaceutical, Kyowa Hakko Kirin, Dainippon, Sumitomo Pharma, Astellas Pharma, Takeda Pharmaceutical, Ono, Teijin Pharma, Mitsubishi Tanabe Pharma, Eisai, e ZERIA Pharmaceutical; bolsas de pesquisa (pequenas quantias) de: Nihon MediPhysics, Chugai Pharmaceutical, Genzyme Japan, Medtronic, e Pfizer Japan; honorários (modestos) de Otsuka Pharmaceutical, Takeda Pharmaceutical, Mitsubishi Tanabe Pharma, Daiichi Sankyo, MSD, Novartis, Bayer, Kyowa Hakko Kirin, Astellas Pharma, Ono e Pfizer; e atuar como especialista para Novartis Pharma, Ono e Pfizer Japan. As declarações de conflito de interesse dos coautores estão registradas no artigo.

Fonte: http://portugues.medscape.com/verartigo/6500758

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