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Monitoramento das crianças infectadas por Zika na gestação é urgente

28/04/2017 - Com Banner

Uma série de estudos divulgados recentemente mostram de forma preliminar as consequências do vírus Zika em crianças infectadas no útero. Mas, segundo os especialistas, os achados também destacam desafios adicionais: identificar os bebês afetados e se certificar que eles recebam acompanhamento adequado na medida em que crescem.

Essa tarefa pode se provar complicada, especialmente com novos dados enfatizando que o vírus pode causar mais dano do que inicialmente se pensava.

Dois estudos rastrearam quantas mulheres infectadas pelo vírus, transmitido por picada de mosquito, tiveram bebês com evidências identificáveis de malformações congênitas, com um deles fornecendo a primeira visão de como o vírus afetou as crianças nos Estados Unidos. Um terceiro artigo sugere que a doença permanece ativa no cérebro desses bebês dias após o nascimento.

Um dos trabalhos, publicado no JAMA por pesquisadores do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), acompanhou 442 grávidas expostas ao vírus, que completaram a gestação entre 15 de janeiro e 22 de setembro. Os pesquisadores descobriram que cerca de 6% dessas crianças nasceram com anormalidades relacionadas ao Zika – incluindo, mas não limitado a microcefalia. Outro estudo, publicado no New England Journal of Medicine, rastreou os desfechos de gestantes no Brasil e sugeriu uma taxa maior de malformações congênitas – 42%. Alguns especialistas dizem que esse maior índice pode resultar do fato de que muitas das mulheres brasileiras apresentaram infecções mais graves, ou devido à exposição prévia a dengue. O terceiro estudo, também conduzido pelo CDC, mostrou que o vírus Zika ainda estava ativo e replicando no cérebro de crianças dias após o nascimento. Isso dá força a achados prévios que sugeriam que o Zika continua sendo uma ameaça fora do útero.

Esse estudo destaca a necessidade de os pediatras testarem os bebês que possam ter apresentado exposição intrauterina ao Zika, mesmo que não mostrem sinais óbvios de infecção ao nascimento. O CDC tem insistido na triagem agressiva. Uma diretriz clínica lançada em agosto também apoia essa abordagem.

Os achados também dão destaque à necessidade de monitorização em longo prazo quanto ao comportamento da doença e quanto à importância de se certificar que as crianças afetadas tenham acesso a tratamentos e a reabilitação.

A zika não tem cura ou vacina, mas a identificação precoce de crianças que tenham sido afetadas pode ajudar. Os médicos podem amenizar algumas das consequências da infecção, disse o Dr. Peter Hotez, reitor da National School of Tropical Medicine do Baylor College of Medicine,em Houston, e especialista no vírus.

“Intervenção precoce, programas de desenvolvimento – tudo isso pode fazer a diferença” para crianças com condições neurológicas, disse ele. “Fisioterapia e terapia ocupacional. Tudo precisa ser feito”.

Ainda assim, continua sendo difícil garantir que esses bebês sejam testados e tratados.

“Nós estamos certamente ouvindo, de parceiros dos departamentos de saúde locais e estaduais, que é desafiador se certificar de que as informações sobre o exame materno, e o fato de que a mãe teve infecção por Zika documentada, sejam passadas para o pediatra”, disse a Dra. Margaret Honein, uma epidemiologista que co-gerencia o grupo de malformações congênitas do CDC e foi autora principal do artigo do JAMA.

O artigo do JAMA, por exemplo, observa que 41% dos bebês que podem ter sido expostos ao Zika no útero não foram examinados para o vírus. “O que isso me sugere é que os obstetras e ginecologistas estão incorporando as recomendações do CDC na prática, mas potencialmente, os pediatras não estão tão conscientes”, disse Julie Fischer, co-diretora do Centro de Ciências e Segurança da Saúde Global na Georgetown University. “O foco tem sido muito na gravidez, no tratamento de grávidas e na identificação das mulheres grávidas… Os pediatras não foram tão sensibilizados para estas questões”.

Isso destaca a necessidade de uma maior comunicação sobre quem pode estar sob risco e por quanto tempo, disse Martha Rac, uma especialista em medicina materno-fetal do Texas Children’s Pavilion for Women e do Baylor College.

“Esta é uma grande área, na qual pode haver uma necessidade de rastreios mais amplos”, disse Martha, referindo-se a bebês nascidos de mulheres que foram expostas ao vírus, independentemente de quais sintomas eles apresentam nos primeiros exames físicos.

Dito isto, a coordenação deste tipo de testagem e acompanhamento em longo prazo não será fácil.

Alguns especialistas em saúde pública argumentam que as pessoas de baixa renda estão em maior risco de exposição ao Zika. Elas têm maior probabilidade de viver em condições nas quais os mosquitos transmissores do vírus mais se desenvolvem.

E essas famílias geralmente têm menos acesso sistemático aos cuidados de saúde. Publicações sugerem que as crianças de baixa renda têm menor probabilidade de serem submetidas a rastreios preventivos e a exames regulares. Dados publicados em 2016 pelo U.S. Department of Health and Human Services mostraram que, no ano anterior, cerca de 40% das crianças cobertas pelo Medicaid tiveram menos de seis consultas de rotina nos primeiros 15 meses de vida, quando a recomendação é de que recebam nove nesse período.

“As crianças que nascem em famílias nas quais o risco de exposição é maior também podem estar em risco de não ter o tipo de acompanhamento próximo do desenvolvimento durante a primeira infância”, disse Julie.

Isso poderia ter consequências, uma vez que especialistas em saúde pública disseram que acompanhar bebês ao longo do tempo é crucial para entender como o vírus afeta o desenvolvimento cerebral e o quão disseminadas podem ser as consequências dele. As porcentagens encontradas até agora podem ser “a ponta do iceberg”, segundo o Dr. Hotez.

Certamente mais pesquisas são necessárias para determinar que tipo de consequências sutis o vírus poderia ter no desenvolvimento em longo prazo do cérebro de uma criança, observou Julie.

“Se os resultados acabam fornecendo evidências para a ideia de que as crianças expostas ao vírus Zika no útero – particularmente no início da gravidez – estão sob maior risco de deficiências no desenvolvimento, então claramente existe a possibilidade de que sejam perdidas chances de intervir precocemente com terapias que talvez ajudem”.

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