26/12/2019 - Notícias
Dez dias após o registro de dois casos de infecção por Plasmodium vivax (P. vivax) terem deixado em alerta Ilhabela, importante destino turístico do litoral norte de São Paulo, a Secretaria de Saúde do município descartou o diagnóstico original.
O município confirmou o segundo diagnóstico em um paciente de um ano e dois meses de idade no dia 20 , [1] um dia após ter sido divulgada a confirmação de um primeiro caso em uma criança de quatro anos. [2] O protocolo orienta que todo caso de malária deva ser notificado (ficha de notificação do Sistema de Informação de Agravos de Notificação, SINAN, para os casos ocorridos fora da Amazônia). [3] As amostras foram então enviadas para validação dos resultados ao Laboratório de Referência da Superintendência de Controle de Endemias (SUCEN), em São Paulo, onde o diagnóstico original foi descartado.
“Os casos que foram notificados como malária pelo laboratório da SUCEN no Hospital Municipal de São José dos Campos não foram confirmados. Houve um engano na leitura das lâminas, um artefato, não era o parasita da malária” disse o Dr. Marcos Boulos, coordenador do Controle de Doenças da Secretaria do Estado de Saúde do Estado de SP.
A prefeitura de Ilhabela lançou um comunicado atualizando a situação e, citando a Secretaria Estadual de Saúde, destacou que o laboratório é treinado para a execução do exame e do diagnóstico da malária, mas que o equívoco “se deve a uma situação de excepcionalidade motivada pela dificuldade de diagnóstico associada a casos autóctones de malária em região com cobertura da Mata Atlântica”. O comunicado ainda salientou que “o diagnóstico destas infecções é desafiador mesmo para profissionais altamente capacitados, visto que, quando são detectados casos positivos, não raro as parasitemias são muito baixas, e os parasitas apresentam-se com morfologia atípica”.
“A malária, doença febril transmitida pelo mosquito, existe no litoral paulista. Temos cinco ou seis casos ao ano. Não teria sido excepcional encontrar malária em Ilhabela ou qualquer outra cidade do litoral norte de São Paulo”, destacou o Dr. Marcos Boulos.
A situação já foi mais grave, até a primeira metade do século XX a transmissão da malária acontecia em todo o território brasileiro, com seis milhões de casos por ano em um país com 50 milhões de habitantes. [4] Atualmente, a malária predomina na região amazônica, e no litoral de São Pau lo os casos são muito esporádicos. Concretamente em Ilhabela, de 1985 a 2006 apenas um caso foi notificado [5] , e em 2010 houve dois casos [6]. Em 2017 foram 15 casos autóctones de malária em todo o estado de São Paulo mas nenhum em Ilhabela ( seis em Caraguatatuba e quatro em São Sebastiã o). Em 2016, também não houve casos em Ilhabela sendo que 10 casos autóctones foram registrados na região, dos quais cinco foram em São Sebastiã o. [7]
Dentre os desafios d o controle da malária por P. vivax estão a manutenção das ações de controle e dos investimentos em áreas de baixa transmissão ; o uso eficiente dos dados, de modo a oferecer uma resposta rápida em um cenário oscilante; e a falta de medidas preventivas que evitem a re incidência . [8]
Segundo o pesquisador Dr. André Siqueira, infectologista especializado em malária e pesquisador na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o fato de os médicos terem considerado a hipótese de malária como a causa da febre das crianças e terem iniciado o tratamento é muito importante.
“É muito positivo que os médicos tenham considerado a malária como causa da febre. Em caso de confirmação, o tratamento dos pacientes reduz a transmissão local. A apesar de 99% dos casos de transmissão de malária se darem na região amazônica, nós médicos devemos permanecer constantemente em alerta, pois as outras regiões também são receptivas, têm o vetor, e a transmissão sempre pode acontecer”, disse o Dr. André.
Apenas 19% dos casos de malária nas regiões extra- amazônicas são diagnosticados e tratados nas 48 horas desde o início dos sintomas. No Rio de Janeiro, por exemplo, a infecção costuma ser confundida com dengue . [9] No estado de São Paulo, 71% dos casos registrados no primeiro semestre de 2018 foram tratados nas primeiras 24 horas . [10]
“A malária no litoral norte de São Paulo é possível, mas o que realmente nos preocupa na região é a febre amarela. É uma doença mais grave do que a malária por P. vivax, e este ano já tivemos mortes”, afirmou o Dr. Marcos.