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Dois tipos de probióticos não são melhores do que o placebo para o tratamento da gastroenterite em crianças

04/04/2019 - Notícias

Crianças com gastroenterite que tomam probióticos não evoluem com melhores desfechos clínicos do que as que tomam placebo, de acordo com dois estudos publicados on-line em 21 de novembro no periódico New England Journal of Medicine.

“Para as crianças que procuraram atendimento no pronto-socorro com quadro de gastroenterite, a administração duas vezes ao dia de um probiótico com a associação de Lactobacillus rhamnosus e L. helveticus não evitou a evolução da gastroenterite para moderada a grave nos 14 dias após o ingresso no estudo”, escreveram o Dr. Stephen B. Freedman médico do Alberta Children’s Hospital, em Calgary, no Canadá, e colaboradores.

A gastroenterite aguda é uma importante causa de morbidade e mortalidade entre crianças em todo o mundo e representa cerca de 1,7 milhões de consultas aos serviços de emergência norte-americanos a cada ano.

No entanto, embora o uso de probióticos esteja em ascensão nos Estados Unidos, inclusive entre as pessoas com infecções intestinais, os dados para embasar a utilização com esta indicação são limitados, o Dr. David Schnadower, médico do Cincinnati Children’s Hospital Medical Center, em Ohio, e colaboradores, reforçaram no segundo estudo.

Com isto em mente, os grupos de pesquisa fizeram diferentes ensaios clínicos randomizados, duplo-cego, para investigar a eficácia do uso de probióticos no tratamento da gastroenterite aguda em crianças.

Os dois estudos prospectivos contaram com um total de 1.770 crianças com idades entre três meses e dois anos, tendo procurado atendimento nos prontos-socorros infantis com gastroenterite infecciosa aguda de moderada a grave.

Nos dois ensaios clínicos, além de receber o tratamento habitual da gastroenterite no pronto-socorro, as crianças também foram designadas aleatoriamente para receber um esquema de cinco dias de probióticos ou placebo de 12/12 h.

Os probióticos eram apresentações disponíveis comercialmente sem prescrição médica no Canadá e nos Estados Unidos. Dr. Stephen e colaboradores utilizaram uma formulação de L. rhamnosus que também contém uma pequena quantidade da cepa probiótica L. helveticus. O Dr. David e colaboradores utilizaram um produto contendo apenas L. rhamnosus GG.

Nos dois ensaios clínicos, os probióticos não exibiram melhor desempenho do que o placebo na redução da progressão ou da gravidade da gastroenterite.

Combinação de probióticos não é melhor do que o placebo

No estudo do Dr. Stephen e colaboradores, ocorreu quadro de gastroenterite de moderada a grave nos 14 dias subsequentes ao ingresso em 108 de 414 crianças (26,1%) tomando probióticos, e em 102 de 413 crianças (24,7%) tomando placebo (odds ratio ou razão de chances = 1,06; intervalo de confiança, IC, de 95%, de 0,77 a 1,46; = 0,72).

Da mesma forma, também não houve diferenças significativas entre os dois grupos na mediana da duração da diarreia (52,5 e 55,5 horas; P = 0,31) ou dos vômitos (17,7 e 18,7 horas; = 0,18).

A incidência de eventos adversos foi semelhante entre os grupos do probiótico e do placebo (34,8% e 38,7%; odds ratio = 0,83; IC 95%, de 0,62 a 1,11; = 0,21). No entanto, duas crianças que receberam placebo tiveram eventos adversos graves. Uma teve convulsão febril e outra teve diagnóstico de doença de Kawasaki.

Probiótico isolado não é melhor que o placebo

No estudo do Dr. David e colaboradores, a classificação de gravidade clínica da gastroenterite foi ≥ 9 em 55 de 468 crianças (11,8%) tomando probióticos e em 60 de 475 crianças (12,6%) tomando placebo. O risco relativo de um episódio moderado a grave de gastroenterite aguda com o uso do probiótico foi de 0,96 (IC 95%, de 0,68 a 1,35; P = 0,83).

Da mesma forma, também não houve diferenças significativas entre os dois grupos na mediana da duração da diarreia (49,7 e 50,9 horas; P = 0,26) ou dos vômitos (0 horas nos dois grupos; = 0,17).

Houve relato de sibilância em cinco crianças no grupo do probiótico, porém não entre as crianças no grupo do placebo (P = 0,03).

Outros probióticos podem ser úteis, afirmou o editorialista

No editorial que acompanha o estudo , o Dr. J. Thomas LaMont, médico do Beth Israel Deaconess Medical Center, em Boston, Massachusetts, explicou que apesar de algumas sociedades médicas recomendarem o uso de probióticos para o tratamento da gastroenterite aguda, os dados para fundamentar essa recomendação são, na sua maioria, “provenientes de estudos com baixo poder estatístico ou com problemas metodológicos relacionados ao desenho do ensaio e à escolha dos desfechos apropriados”.

Por outro lado, o editorialista destacou que esses dois ensaios clínicos foram igualmente bem planejados, com desfechos primários semelhantes, gerando dados combinados de alta qualidade de um grande número de participantes.

“Tomados em conjunto, nenhum destes grandes ensaios clínicos bem elaborados oferece embasamento para o uso de probióticos contendo L. rhamnosus para tratar a gastroenterite de moderada a grave nas crianças”, escreveu o Dr. Thomas.

No entanto, continua sendo viável que outros probióticos possam ser úteis para o tratamento da gastroenterite aguda nas crianças, acrescentou o editorialista, dado que existem muitos probióticos disponíveis com diferentes propriedades.

“Com o seu baixo custo e efeitos tóxicos desprezíveis, os probióticos têm o potencial de tratar várias doenças, gastrintestinais e outras, porém são necessários ensaios clínicos rigorosos como os descritos nesta edição do New England Journal of Medicine, com o intuito de determinar o potencial de eficácia ou eficiência”, concluiu o editorialista.

O estudo do Dr. Stephen Freedman e colaboradores foi financiado pelas empresas e instituições Canadian Institutes of Health Research; Alberta Children’s Hospital Foundation; Calgary Laboratory Services; Provincial Laboratory for Public Health–Alberta Public Laboratories; Luminex e Copan Italia.O estudo do Dr. David Schadnower e colaboradores foi financiado pelas empresas e instituições Eunice Kennedy Shriver National Institute of Child Health and Human Development; Emergency Medical Services for Children Program of the Maternal and Child Health Bureau, Health Resources, and Services Administration; Washington University Biobank Core, subsidiado pelos National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases, National Institutes of Health e iHealthO Dr. Stephen Freedman informou ter recebido o medicamento do estudo (probiótico) e o placebo da empresa Lallemand Health Solutions para outro estudo. O Dr. David Sherman informou ser diretor científico do Canadian Institutes of Health Research, Institute of Nutrition, Metabolism and Diabetes. Os conflitos de interesse dos outros autores estão listados nos artigos. Os editorialistas informaram não ter conflitos de interesse relevantes.

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