27/06/2019 - Notícias
Indo de encontro às recomendações da American Diabetes Association (ADA),estudo revela que índice tornozelo-braquial (ITB) baixo está associado a risco excessivo de desfechos cardiovasculares adversos, mortalidade e neuropatia periférica em pessoas com diabetes.
Atualmente, a ADA recomenda que o índice ITB seja medido apenas nos pacientes com diabetes tipo 2 com sinais ou sintomas de doença arterial periférica (DAP).
Para os autores do estudo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os achados corroboram o valor prognóstico dessa ferramenta e, portanto, o ITB deveria passar a ser medido pelo menos uma vez por ano em todos os pacientes com diabetes tipo 2. O Dr. Gil Salles, médico e coordenador do Programa de Hipertensão Arterial do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ, e um dos autores da pesquisa falou ao Medscape sobre os achados.
O estudo foi publicado em novembro no periódico Diabetologia .
Segundo o Dr. Gil, trata-se de uma variável contínua, ou seja, estima em quanto aumenta o risco de complicações para cada redução de 0,1 no ITB. No entanto, valores de corte têm sido determinados a fim de facilitar sua aplicação. O médico explicou que, tradicionalmente, um ITB ≤ 0,90 é considerado anormal. Valores entre 0,91 e 1,00 são considerados limítrofes ou duvidosos, e valores entre 1,01 e 1,3 ou 1,4 são classificados como normais. Nos casos em que a medida ultrapassa essa margem, o ITB também é considerado anormal. Dessa forma, ITB inferior a 0,90 reflete doença aterosclerótica nos membros inferiores, enquanto ITB acima de 1,3/1,4 indica artérias não compressíveis.
O Dr. Gil e equipe analisaram 668 pacientes do estudo de coorte do Rio de Janeiro de diabetes tipo 2 (RIO-T2D). Todos os pacientes tinham alto risco cardiovascular, ou seja, tinham alguma complicação micro ou macrovascular ou, no mínimo, dois outros fatores de risco cardiovascular . Os participantes foram recrutados entre 2004 e 2008, e foram submetidos a um protocolo com exame clínico, aferição do ITB, avaliação laboratorial e monitoramento ambulatorial da pressão arterial durante 24 h ao início do estudo(baseline). O tempo médio de acompanhamento dos pacientes foi de 10 anos.De acordo com o Dr. Gil, apenas um indivíduo apresentou ITB maior que 1,3, sendo excluído da análise. O grupo não encontrou qualquer evidência de maior risco no subgrupo com ITB limítrofe em relação ao grupo com ITB normal e, por isso, focou na comparação de dois grupos: acima de 0,90 e abaixo ou igual a 0,90.
Um total de 156 participantes (23,4%) teve ITB igual ou menor a 0,90. O grupo com ITB baixo (≤ 0,90) era mais velho, tinha maior tempo de diabetes e menor índice de massa corporal (IMC), além de apresentar mais história de tabagismo, bem como maior número atual de fumantes. Entre os participantes com ITB baixo, a prevalência de dislipidemia também foi maior, houve maior prevalência de pessoas usando estatina, assim como mais hipertensos e pacientes em uso de anti-hipertensivos.
O ITB foi associado a todos os desfechos macrovasculares e de mortalidade, exceto pela mortalidade por causa não cardiovascular. Os participantes com ITB ≤ 0,90 tiveram risco 2,1 vezes maior de mortalidade por todas as causas, risco 2,7 vezes maior de mortalidade cardiovascular, e risco 2,5 vezes maior de eventos cardiovasculares adversos. Os resultados mostraram que o ITB melhorou a discriminação em relação aos fatores de risco clássicos. Além disso, ITB baixo foi associado ao aparecimento ou ao agravamento de neuropatia, mas, por outro lado, não esteve relacionado com a retinopatia ou os desfechos renais.
De acordo com o Dr. Gil, os resultados indicam que “pacientes com ITB anormalmente reduzido têm risco cardiovascular muito maior (duas vezes mais) do que aqueles com ITB acima de 0,90, e o mesmo foi observado para a ocorrência de neuropatia periférica “.
Como o ITB baixo reflete doença aterosclerótica nos membros inferiores, o médico explicou que seria razoável supor que também esteja associado a ocorrência de doença aterosclerótica nas artérias coronarianas e cerebrais, identificando, portanto, os pacientes com maior risco de complicações cardiovasculares, como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral .
“No caso da neuropatia periférica, a associação era menos previsível, mas como a neuropatia periférica frequentemente coexiste com DAP dos membros inferiores – o ‘pé diabético’ é geralmente consequência da associação de DAP e neuropatia –, constatar que a DAP assintomática (ITB baixo) foi preditor de ocorrência de neuropatia periférica não foi de todo surpreendente”, afirmou o médico .
O especialista explicou que antigamente a aferição do ITB exigia o uso de um Doppler portátil, porém, hoje em dia, é feita com aparelhos automáticos digitais de medida da pressão arterial. Isso tornou a medida desse índice muito simples e rápida, além de viável na rotina, visto que os aparelhos automáticos digitais já são amplamente usados.