10/10/2019 - Notícias
A música pode ajudar a melhorar a comunicação social, bem como a conectividade cerebral auditivo-motora e crianças com transtorno do espectro autista (TEA), sugere nova pesquisa sobre exames de imagem.
Em um estudo feito com 51 crianças com o transtorno, as crianças randomizados para fazer uma intervenção de dois a três meses de improvisação musical tiveram a pontuação da comunicação significativamente maior do que a das que fizeram uma intervenção não musical.
As crianças do grupo musical também tinham a conectividade funcional significativamente maior em estado de repouso auditivo entre as regiões cerebrais subcorticais e auditiva e entre as regiões fronto-motoras. Além disso, o grupo da intervenção musical apresentou menor conectividade nas regiões visuais, que costumam estar “hiperconectadas” nas pessoas com autismo.
“Estes resultados são estimulantes e muito promissores para o autismo”, disse em um comunicado à imprensa a primeira autora do estudo, Dra. Megha Sharda, pós-doutoranda do International Laboratory for Brain, Music, and Sound Research, Department of Psychology, University of Montreal, Canadá.
A pesquisadora disse ao Medscape que, embora tenham sido observados efeitos benéficos da música anteriormente em pacientes com transtorno do espectro autista, foi emocionante constatar esses efeitos sobre o cérebro no estudo em tela.
“Quando duas pessoas tocam juntas, há tantas coisas importantes acontecendo pelo processo de ouvir e pela grande interação e, como resultado, isso ativa várias partes do cérebro. Estas são realmente áreas fundamentais no autismo e ficamos contentes de estudá-las com um desenho robusto”, disse Dra. Megha.
Os achados foram publicados on-line em 21 de setembro no periódico Translational Psychiatry.
“A música tem sido identificada como uma força em pessoas com transtorno do espectro do autismo, no entanto, ainda não existe nenhuma evidência neurocientífica que respalde os seus benefícios”, escreveram os pesquisadores.
“Dado o apelo universal, o valor intrínseco de recompensa e a capacidade de modificar o cérebro e o comportamento, a música tem o potencial de ser um auxílio terapêutico no autismo”, acrescentaram.
Na avaliação atual, que foi realizada entre abril e dezembro de 2016, em Montreal, os pesquisadores recrutaram 51 crianças com transtorno do espectro autista entre 6 e 12 anos de idade (84% meninos; média de idade de 10,3 anos).
Todos foram randomizados para fazer de 8 a 12 semanas de intervenções musicais (N = 26) ou não musicais (N = 25).
“A intervenção musical foi feita pela improvisação melódica e rítmica, visando a comunicação social”, informaram os pesquisadores. Esta abordagem utilizou instrumentos musicais, canções e instrumentos de percussão.
“O grupo de controle não musical fez uma intervenção comportamental pareada estrutural implementada em um contexto sem música”, escreveram os pesquisadores. Essa abordagem baseou-se em um modelo de execução musical engajando tanto a atenção como a emoção do terapeuta.
As duas intervenções reforçaram a autoexpressão e a criação de vínculos relacionais, e ambas foram feitas em sessões semanais individuais de 45 minutos.
Foi utilizada uma vasta gama de aferições, como os relatos dos pais sobre os desfechos comportamentais pelas escalas Children’s Communication Checklist (CCC-2), Social Responsiveness Scale (SRS-II), a subescala de comportamento inadequado das escalas Vineland Adaptive Behavior Scales (VABS-MB) e a Beach Family Quality of Life Scale (FQoL). O Peabody Picture Vocabulary Test (PPVT-4) também foi utilizado para avaliar o vocabulário receptivo.
Ao início do estudo e após a intervenção, todos os participantes fizeram ressonância magnética funcional (RMf), com leituras de imagens dependentes do nível de oxigênio sérico em repouso, (BOLD, do inglês Blood-Oxygen-Level-Dependend) de todo o cérebro.
Os resultados mostraram melhora significativamente mais expressiva da pontuação da comunicação no CCC-2 no grupo da intervenção musical em comparação ao grupo de controle (diferença média de 4,84; P = 0,01), bem como no FQoL (diferença média de 7,06; P = 0,01) e VABS-MB (diferença média de 0,08; P = 0,01).
No entanto, em comparação ao grupo não musical, o grupo musical demonstrou:
O comentarista acrescentou que a conectividade é uma função neurológica fundamental nestes pacientes, e que a melhor conectividade observada no estudo foi “uma descoberta promissora”.
O Dr. Michael também destacou que, embora o número de pacientes possa parecer pequeno, “recrutar 51 crianças com autismo foi realmente um sucesso. Manter essas crianças em um estudo pode ser difícil”. O comentarista observou que ter a participação de um terapeuta “para treinar as crianças” foi um diferencial.
Perguntado se tem algo a ressaltar para os médicos em relação aos resultados do estudo, o Dr. Michael disse que recomendaria “considerar seriamente” o uso da música como uma possível ajuda para pacientes com transtorno do espectro autista.
“Mas tem de ser bem feito”, ressaltou. “A música tem sido usada para as crianças há 50 ou 60 anos, essa pesquisa não revelou nada de muito novo. Este é de fato o primeiro estudo intervencionista mostrando alguma coisa. De modo que me parece ser importante analisar como usar a música”.
O comentarista observou que existe um modelo de musicoterapia neurológica que os médicos podem usar “e talvez, então, adaptar sua intervenção ou suas recomendações em torno disso”.
O estudo foi financiado por Canadian Institutes of Health Research e por um subsídio piloto de Quebec Bioimaging Network. Um dos autores do estudo foi contratado como funcionário de Westmount Music Therapy durante o estudo. Dra. Megha e outros sete autores, bem como Dr. Michael Taut informaram não ter conflitos de interesses relacionados com o estudo.